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Tuesday 26 December 2017

DO RETROVISOR E DO FREIO DE MÃO EM 2018



Dos balanços da vida no final do ano, sejam  pessoais, familiares ou  empresariais, todos têm uma característica: somar, analisar e ver pelo retrovisor o que aconteceu. É sem duvida um exercício muito útil, em especial se você analisar não o que você conseguiu mas o que você não conseguiu e onde você errou. Ou onde a sua equipe, seja na família, seja na empresa, poderia ter sido mais feliz, onde poderiam provocar menos stress e chegar a melhores resultados. É  absolutamente fundamental essa análise racional, com lápis e papel na mão. Na coluna da esquerda, onde acertamos, e, na da direita, onde erramos. Não precisa nem de computador ou de algum algoritmo para isso. E claro, onde eu errei e acertei, e onde a equipe acertou e errou. E discutir isso, de forma franca, aberta e, porque não, dizer tranquila e sinceramente. Dialogo não morde e não tira pedaço, mas é às vezes difícil, exige uma boa dose de liderança e desprendimento.

E daí, para a  frente, sente-se na carroça de sonhos e comece a construir os objetivos para os próximos anos. Feche o retrovisor, porque ele existe no carro, mas na vida empresarial não é o que vai levá-lo a realizar seus objetivos. Estes, quem vai determinar é você com a sua equipe e, daí para frente, é olhar para o adiante, construir mais e mais o seu futuro. Como empresário, se não enxergar as dificuldades, então você tem um problema grave, porque o mar de rosas nesta vida de empresário, seja onde estiver, não existe. 

Os obstáculos para alcançar seus objetivos são de dois tipos: internos, inerentes ao seu negócio, e externos, sobre os quais você tem pouca influência. 

Primeiro está o mercado, como ele se move, quais são as forcas que o compõem, como andam a concorrência, inovação, mudanças no comportamento dos consumidores ou modelos  de negócios  dos seus clientes. As inovações tecnológicas que batem na sua porta e que determinam  a mudança não só de produzir, oferecer seus produtos, mas também a atualização dos produtos. Ou as relações com seus sócios, ai incluindo seus funcionários, que não sabem o que vai acontecer dentro do contexto da nova legislação. E mais e mais.

E aí vem a segunda parte: o ambiente externo. Este país, com seu povo maravilhoso, esculhambado pelos políticos que nos elegemos até a medula.  Temos uma gestão pública orientada essencialmente em antagonismo com o empresário e um judiciário, em todos os níveis e ramos, assustadoramente não merecedor da confiança do cidadão. As eleições estão na porta, com os mesmos que fizeram o modelo econômico-financeiro e político do país falir. Ou seja, a desesperança que racionalmente assusta e nos induz a puxar o freio de mão na consecução dos nossos sonhos e objetivos.

Não faça isso, não se assuste e convença-se de que você, com sua garra , capacidade de trabalhar, persistir, resistir e vencer, supera tudo isso. Se você sobreviveu até agora, você também vai sobreviver a esse 2018 cheio de surpresas, golpes baixos dos políticos, poucas mudanças a seu favor (quem sabe vem uma reforma tributária). Não puxe o freio de mão. Acredite na sua equipe, acredite em você mesmo, porque esse  é o seu melhor investimento. E claro,  mantenha o caixa sob controle.


Um ano novo feliz, resiliente e resistente.

Sunday 17 December 2017

DO PAÍS DOS MISERÁVEIS



Dezembro, mês de festividades, desde Hannuka até o Natal e Ano Novo, sem esquecer no início de janeiro Santa Claus (que os europeus festejam), nos confunde com alegria, presentes, bons votos e bondades, com os balanços e as perspectivas. Em geral, sempre desejamos mais e mais, esperamos, que o ano que se aproxima seja um ano melhor. As festas nas empresas são cheias de otimismo, ao mesmo tempo que os documentos estratégicos prometem mundos e fundos em um país que está prestes a ter uma eleição em que o que mais predomina é a incerteza.

Mas, fora das esperanças macroeconômicas, falam até em 3% de crescimento do Produto Interno Bruto, e passagens das reformas básicas como da Previdência e eventualmente uma tímida reforma tributária, está na hora de, com corações abertos, analisarmos, com os últimos dados do IBGE, em que país vivemos. O que de fato é o Brasil. 

O Brasil é um pais de 52 milhões de miseráveis, dos quais quase 14 milhões de pessoas vivem em condições de extrema pobreza. Onde temos 14 milhões de desempregados e uma geração de jovens de 16-29 anos nem-nem. Nem estudam e nem têm emprego. E a cada 48 horas temos um jovem assassinado. Uma população carcerária de quase 1 milhão de pessoas, das quais 40 % estão presos sem julgamento. E mais e mais estatísticas que nos colocam como o país de maior desigualdade social do mundo. Sem falar nos escândalos de corrupção.

Bem, há coisas positivas para todos os cantos, mas elas não se sobrepõem ao retrato de miserabilidade na qual o país caiu e, por incrível que pareça, com governos de esquerda dominando a política nos últimos 16 anos. 

Não adianta tapar o sol com a peneira. O retrato social, que é claro determina o retrato econômico (não vamos nem falar na educação) nos leva a pensar que futuro temos. Que modelo econômico de democracia será proposto para a inclusão desse contingente de miseráveis no mercado de trabalho. Quais concessões sociais o estado está disposto a ceder para que a situação mude. E como mudar?

Não vejo que nenhum dos políticos esteja discutindo isso neste momento. Não há uma visão a médio prazo e nem um projeto de país que vislumbre mudança, seja ela radical, seja ela gradual, dessa situação.

Simplesmente aceitamos que as diferenças sociais que temos fazem parte do Brasil, e somos indiferentes ao retrato do país dos miseráveis. 


Mas, a história mostra que essas diferenças não constroem um país, mas destroem seu tecido social, político e econômico. A vulnerabilidade é maior do que queremos perceber. Principalmente se aceitarmos essa triste realidade que construímos.

Monday 11 December 2017

DAS REFORMAS E ESPERANÇAS



A reforma da previdência está ocupando todo o debate político e econômico  nos últimos tempos. O governo está colocando a sua tropa de choque, a mudança do ministro  de articulação política, nomeando o agressivo Marun para cargo é um claro sinal disso. O refrão é quem não está conosco, está contra. Amém. E a reforma tem que sair, salve Brasil. E o tal do mercado, que adora o Ministro da Fazenda, vai dizer que o Brasil está fazendo reformas e marchando, apesar da impopularidade do próprio Presidente da República e de todos os processos judiciais em curso.

Não há dúvida de que algumas reformas, como a trabalhista, são de fato reformistas, ou seja mudam o paradigma. A da previdência é uma reforma pífia que modifica alguns itens nas agenda de mudanças necessárias mas não vai trazer benefícios nem para o trabalhador e nem para o caixa da previdência. Os benefícios de certas classes, como o legislativo e o judiciário, permanecem e são intocáveis. Para a reforma ser consistente precisa ser mais ampla  e definir também os parâmetros das previdências pública e privada. A previdência privada pode ser grande financiador do desenvolvimento, desde que bem administrada e controlada. Mas, hoje em dia, os  fundos de previdência de estatais são um saco de gatunos e por outro  lado, as empresas de previdência privada, como da saúde, conseguem  aumentos anuais acima de qualquer inflação imaginária. Ou seja, nessa área ninguém mexe e não precisa de leis novas, mas de ordem e controle.

Mas, nenhuma reforma da previdência vai dar certo se não mexer no cerne do problema econômico brasileiro, entro outros: o modelo de gestão do estado, burocrático e com pouca eficiência o para cidadão. Não basta ter algumas categorias de funcionários excelentes se o sistema absolutamente  não acompanha as necessidades da população e nem do país como um todo. Essa reforma, que pode começar  nos municípios e estados, não está acontecendo. E muito menos no nível da federação.


Outra reforma absolutamente necessária é a fiscal e tributaria. Dela ninguém fala, apesar de projetos na Câmara e discussão de alguns deputados. Sem essas reformas, todas as outras ficam sem muito efeito. E quando o Presidente da República pede aos empresários apoio à reforma da previdência, eles não lhe dizem com clareza que a previdência só vai funcionar se houver reforma tributária. Mas esta também pode começar pelos municípios  e estados. Desburocratizando, simplificando, já seria um bom passo. Mas, ninguém esta fazendo isso porque a regra é quanto mais complicado, melhor. 

Sunday 3 December 2017

MINAS 4.0



A economia mundial está se transformando com uma rapidez como nunca antes na história. É só lembrar que há 25 anos poucos tinham o “tijolo” chamado telefone celular e ver como está hoje: quase 100 % da população brasileira tem celular (a maioria smartphones) e 8  % de todas as compras são feitas via celular, sendo que se espera que em dez anos passe para 50 %. Comprar passagem, seja de ônibus, seja de avião, pedir taxi (morreu o taxímetro), coordenar viagem com Waze e se comunicar com um grupo de pessoas via Whatsapp (inclusive para viajar juntos e com isso deixar de viajar de ônibus) é tão comum como reservar hotel ou hospedagem via Airbnb ou outro aplicativo.

Estas são algumas das mudanças que estão visíveis. Abrir conta no banco digital e movimentar dinheiro via internet é outra. E assim há dezenas de aplicativos de tecnologias novas que há alguns anos atrás não existiam. E mais uma dezena que estão em execução, afetando a nossa vida com nomes como blockchain, segurança cibernética, robótica, internet das coisas, inteligência artificial, big data e analítica, quantum computers, impressoras 3 D (esta já esta velha), drones, e indústria 4.0,  que reúne tudo isso nos processos industriais.

O Brasil vive uma profunda crise institucional e uma transição política. Mas vive ao mesmo tempo em um mundo em profunda transformação tecnológica, que afeta todo o sistema econômico. Será que essa transformação tecnológica (veja o voto eletrônico) não vai transformar o país (sem falar das mudanças na área de comunicação) mais depressa do que as mudanças na área politica? Como estamos nos preparando para essas mudanças?

No debate promovido pelo Minas em Movimento e pela apresentação do Gustavo Tayar, renomado especialista da consultoria McKinsey e secundado por Wilson Leal, da maior empresa  brasileira de big data, Neoway, ficou claro que o mundo anda e a caravana fica. Ou seja, ou nos preparamos para acompanhar essas mudanças, ou o nosso fosso entre sociedade desenvolvida e subdesenvolvida  (nem em desenvolvimento) vai ficar intransponível.

Programas de start up, estabelecimento de centro de pesquisas da Google, ou de genética animal em Uberaba (estes desglorifidados com um belo artigo na revista francesa Nouvel Observateur), biotecnologia e mais alguns exemplos, não serão suficientes para alavancar a economia mineira. O uso crescente mas limitado de avançados recursos tecnológicos na indústria mineira (como o robô) ou no comércio, não nos garante sermos competitivos. E, por outro lado, os cursos de matemática (quem lembra do saudoso professor Judice), engenharia e física (com o excelente departamento na UFMG) têm se disseminado, assim como os cursos de ciências humanas. Nós vamos precisar de matemáticos, físicos, químicos entre outros, para nos desenvolver.

O salto tecnológico deve ser liderado pelo próprio governador do estado e deve ser um projeto consensual da sociedade. Ele não é projeto de um mandato e requer esforços e recursos inimagináveis. Inovação em todos os níveis é só uma parte da gigantesca tarefa que temos que enfrentar para sobrevivermos como sociedade (claro que com muitos desafios, inclusive na área de emprego), mas Minas precisa urgentemente de um projeto consistente de seu desenvolvimento, baseado nas tecnologias que o mundo está oferecendo. Minas 4.0.


Sunday 26 November 2017

DE MINAS EM MOVIMENTO



Minas está onde sempre esteve.

Uma das frases preferidas dos mineiros, em especial dos políticos sábios, é que estamos onde estamos e você tem que saber onde estamos. Se não entrarmos na discussão política, onde as variáveis de funcionamento são inexplicáveis para o cidadão comum, sobra-nos a parte econômica, que no fundo tem muita influência sobre a política. Aliás, é a que paga o exercício da política.

Nesse capítulo, Minas, segundo os dados da revista Mercado Comum e do Diário do Comércio, deixou de estar onde esteve há muito tempo. A  nossa diferença com São Paulo, estado mais competitivo do Brasil, foi aumentada nas últimas décadas. Não só os governos mais recentes deixaram um arraso nas contas públicas como também até agora nenhum governo federal cumpriu e pagou as diferenças que pertencem ao estado no caso da exportação de minérios, ou seja a chamada Lei Kandir, o que afeta e em muito a consolidação e o crescimento do Estado. A distância que nos separa de São Paulo é de 50 anos, se aumentarmos em 5 %  ao ano o nosso Produto Interno Bruto. A indústria mineira virou filial de empresas com sede em São Paulo ou no exterior e perdeu em faturamento nos últimos 15 anos  mais de 50 %.

A situação dramática não deve assustar. Não é só o desastre de Mariana que nos deve levar a uma reflexão serena sobre o futuro do Estado, que assumiu o segundo lugar na economia brasileira por causa da queda da economia fluminense. No passado foram feitos diagnósticos da economia mineira que levaram a um plano de desenvolvimento no início dos anos 60 e 70. Deu certo. 

Hoje, o mundo é diferente, em especial quanto à globalização e tecnologias. Então, você tem ainda exemplos de empresas mineiras líderes nacionais, como a Kroton, Martins, Algar, Unimed BH ( a mais bem administrada Unimed do Brasil), Localiza, Forno de Minas, Araujo, Cia. Do Terno, Itambé, e tantas outras. Nós temos um movimento de start up nada desprezível e temos graças ao Guilherme Emrich não só um centro de biotecnologia mas também um centro de pesquisas da Google.

Temos um setor agrícola que deixou no chinelo a indústria, e está despontando como líder da economia. Demos um tiro no pé com a destruição do cluster de serviços e industrial em torno do aeroporto de Confins. Ou seja um passo para a frente e dois para trás.

Minas são várias disse Guimarães Rosa. Aliás, Minas na cultura,  com o grupo Corpo, produções teatrais, músicos, Inhotim, de longe supera o marasmo econômico e também  tem reconhecimento mundial.


Está na hora de Minas e em especial as suas entidades de classe voltarem a abraçar o projeto Cresce Minas, projeto que uniu a todos, governo e empresariado, na década de 90 e, através da introdução da metodologia de clusters, desenvolveu Minas. Fez a Minas, que tem na sua gente o seu  valor maior, crescer.

Sunday 19 November 2017

DO TANGO ARGENTINO RENOVADO



Goste ou não, foram os argentinos que criaram empregos na indústria brasileira este ano. E em especial na indústria automobilística. A Argentina está crescendo, comprando mais automóveis, mais máquinas, mais equipamentos do Brasil e criando emprego no Brasil. Sem as compras argentinas, que causaram no país portenho um déficit comercial com o Brasil  de 5 bilhões de dólares (aliás o déficit correspondente ao total do déficit da balança comercial argentina neste ano), a indústria brasileira estaria patinando e suas exportações de manufaturados não avançariam muito.

O fato é que enquanto avançamos lentamente,  o ex-Presidente do Boca Juniors e prefeito de Buenos Aires, hoje Presidente de la Nacion  (como o chamam na república vizinha), está colocando o país em ordem. Ganhou as últimas eleições intermediarias para o  Senado e a Câmara dos deputados contra o kirchnerismo que dominou a política argentina últimos 12 anos (o seu símbolo populista é a ex-Presidente Cristina Kirchner) e apresenta dados econômicos que mostram ao mundo que parceiro confiável hoje é a Argentina.

Para começar, resolveu uma briga de dezenas de anos com os fundos de investimentos que, com o default da dívida externa, iam perder o dinheiro investido na  Argentina. Deu segurança jurídica aos investimentos estrangeiros e locais (ao contrário do que está acontecendo especificamente  em Minas com investidores suíços no caso do aeroporto de Confins). Essa confiança criou não só um fluxo enorme de capitais estrangeiros de várias fontes, mas também trouxe de volta 117 bilhões de dólares dos argentinos (repatriação de capital), correspondentes a 20 % do Produto Interno Bruto.

A confiança nos rumos do governo também é notada pelos novos investidores na área da economia digital e de start up. Apesar do enorme esforço no Brasil, foi Buenos Aires se tornou, segundo a Bloomberg,  a capital latino-americana de inovação, com maciços investimentos dos investidores norte-americanos, entre eles a volta do George Soros depois de duas décadas de ausência nos investimentos na Argentina. O país portenho sempre teve educação primorosa e excelentes cientistas. E com a estabilidade política está colhendo os frutos com uma nova onda de empreendedores.


A ligação aérea de Confins para Buenos Aires (enquanto algum interessado em transferir isso para Pampulha não queimar o filme) deve significar uma ponte que vai além de indústria automobilística. Nossos empresários, financiados pelas entidades empresariais, gostam de passear pela Europa, o prefeito de Contagem vai à China, mas estamos desprezando um mercado com facilidades e um crescimento enorme na nossa porta. Aliás, isso vale também par o Uruguai e o Paraguai. Acusamos os argentinos, que por  sinal estão mostrando na Usiminas o que entendem da siderurgia, de arrogantes, enquanto nos somos míopes, desprezando o potencial de negócios que temos nesta nova era da Argentina.

Saturday 11 November 2017

DOS FINS DOS CONFINS E DA PAMPULHA



A decisão de reativar os voos de aviões de grande porte para a Pampulha é a flecha de morte no coração de um projeto maior que  é um aeroporto chamado de Tancredo Neves, nas proximidades da capital mineira e administrado pela concessionaria BH Airport. Na mesa estão todas as emoções imagináveis, inclusive  declarações inadequadas do prefeito da capital, mas pouca racionalidade.

Entre as emoções devem-se incluir também os sentimentos dos passageiros que, para usufruírem da comodidade de uma distância menor, terão que se sujeitar às péssimas condições do aeroporto da Pampulha. Não tem finger (Confins tem 26 pontes de embarque/desembarque), nos dias de chuvas há alagamento e de noite, os taxis somem. O aeroporto que sustenta o nome do poeta que saiu e não voltou a BH, é dos piores do mundo em termos de infraestrutura,  que foi suportada, inclusive com pousos criativos pelos pilotos experientes, nos dias de chuva, pelos passageiros. Mas, a comodidade de uma viagem mais curta, especialmente pelos ansiosos por trabalhar mais e conviver mais com a família tradicional mineira, compensam os riscos de incomodo e de falta de segurança. Não se esquecendo de que, para o aeroporto ser novamente operacional no seu nível de qualidade e segurança mínima, a INFRAERO, leia-se  o governo e as empresas, terão que investir, o que vai elevar o custo da passagem.

Mas, vale a pena lembrar que, quando o aeroporto de Confins foi construído há 33 anos, e o projeto era de conectar Minas com o mundo (dos 42 destinos hoje, 4 são internacionais, além de servir para trânsito de cargas com infra estrutura de alfandega eficaz para a internacionalização das empresas mineiras, que importavam via São Paulo e Rio) . Em torno do aeroporto havia a intenção fazer uma zona industrial avançada, inclusive com serviços na área aeronáutica. BH teria assim um aeroporto de grande porte e mais um, além do militar de Lagoa Santa, na cidade, com serviços e para vôos regionais.

A decisão da bancada mineira de apoiar a mudança do aeroporto,  aliada aos políticos do PR (segundo a imprensa nacional), demonstra claramente que quem manda na política mineira e nos seu desenvolvimento é o ex-presidiário Waldemar da Costa Neto. 

Mas, a questão mais grave é que você não pode fazer em Minas um contrato, como foi o da a concessão do aeroporto de Confins, que vale, porque você não sabe o que os políticos vão mudar no decorrer do contrato. E, só para lembrar, a concessionária que investiu e modernizou o aeroporto, para alegria dos seus 22 milhões de passageiros (e dos taxistas que cobram realmente uma fortuna), tem sócio suíço, o aeroporto de Zurique.

E na Suíça, onde todos se conhecem e trabalham juntos, quem terá a coragem de investir num estado onde os políticos trabalham para desrespeitar um contrato? Um tiro no pé da melhor qualidade. E uma mudança no eixo de desenvolvimento em um estado em que o único porto é o aeroporto.

Sunday 5 November 2017

DO QUE DIZER SOBRE O DESASTRE DE MARIANA

DO QUE DIZER SOBRE O DESASTRE DE MARIANA

Estes dias faz dois anos que as águas enlameadas rolaram da barragem da Samarco pelo lugarejo chamado São Bento, pela minha Barra Longa e por Mariana. Tiraram vidas, empregos, esperanças e enlamearam os rios até o mar. Sujaram a alma mineira por dezenas de anos, alma de quem oferecia suas terras ricas de minérios para serem exploradas para o bem dos homens. E como inúmeras vezes nesse negócio, onde o ganho de alguns, em detrimento do prejuízo de todos, prevalece, assim aconteceu também no rompimento da barragem de Mariana.

Se não fosse a imprensa, e em especial a TV Globo, que mostrou que depois de dois anos muito foi feito e nada aconteceu, que o desastre ainda povoa a memória e a vida das pessoas atingidas, provavelmente ninguém lembraria. As entidades de mineração, como seu sindicato  e sua entidade federativa, não foram capazes de organizar uma análise critica do que aconteceu e como está sendo resolvida a questão. A Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Minas continua mais preocupada com a fiscalização das empresas dos adversários políticos dos amigos dos seus dirigentes do que com a questão da barragem de Mariana. Os acionistas da empresa, Vale e BHP, já estabeleceram que foi um desastre e, com uma solução mais de relações públicas do que de consertar o que esta difícil de ser consertado, criaram uma fundação Renova e encheram de dinheiro para resolver o problema da empresa  e não da população atingida.

Não é que Renova não faz um bom trabalho, faz. Mas o objetivo tanto da Renova como dos políticos mineiros e da própria Samarco, é colocar a empresa para funcionar. Assim vai gerar emprego e impostos e tudo vai cair no esquecimento. A Justiça estadual, com alguns jovens e dedicados procuradores, tenta reparar o dano, mas como sempre anda devagar e sem perspectivas de solução. Em resumo, segundo jornal Folha de São Paulo, a empresa se salva e o cidadão prejudicado fica prejudicado.

Nessa tragédia toda ainda há aproveitadores como os prefeitos de algumas cidades atingidas, o exemplo mais gritante é onde Barra Longa (que de fato virou um barra de lama longa),  que prometeram mundos e fundos para os eleitores por conta das indenizações do desastre. E aí o dinheiro até pode  ir para as Prefeituras, mas não chega à população.

Em resumo, como Minas ainda tem muitas barragens como a de  Mariana, e ninguém está fazendo nada para que o modelo de exploração mude, a única esperança que resta é que a exploração  mineral cresça mais na Amazonia, porque assim ninguém em Minas fica preocupado com o que vai acontecer. Porque pelo andar da solução desse desastre,  só rezando para que não aconteça o próximo, visto que, dependendo do governo e das mineradoras, dos seus líderes,  do judiciário e dos políticos,  nada de bom vai acontecer.


DE PERNAMBUCO PARA MUNDO E VICE-VERSA

DE PERNAMBUCO PARA MUNDO E VICE-VERSA

Com todos os avanços tecnológicos à nossa disposição, ainda não se   descobriu como substituir uma boa posição geográfica na logística das exportações. E Pernambuco tem esta posição, tanto  do ponto de vista marítimo, como aéreo. É só olhar o mapa e ver como fica perto tanto dos Estados Unidos como da Europa, sem ignorar a África. E isto não é nenhuma novidade, já que a luta pelo domínio de Pernambuco e sua posição privilegiada data do descobrimento do Brasil e as invasões holandesas e francesas que esse estado sofreu. E a isso se soma também a tradicional base de produção e exportação de açúcar para o mundo.

Mas, nos tempos de hoje, o que vale essa posição? Muito e nada. Nada, porque para exportar precisa-se de base produtiva, precisa-se de produtos aliados a uma eficaz rede de logística e serviços. Essas duas condicionantes estão se recompondo em Pernambuco. De um lado, temos a eficácia do cluster de frutas em torno de Petrolina, por outro lado o cluster automobilístico, com a  fábrica da FCA. Mas  enquanto o primeiro prospera, o segundo tecnologicamente mais avançado do País, está orientado, graças a inúmeros benefícios (e com a dificuldade de não ter ainda uma escala de produção que amplie o anel de fornecedores de autopeças), mais para o mercado interno do que o externo. E adicionalmente, para o açúcar e etanol, sempre em dificuldades devido às politicas governamentais.

Em outro plano, mas de primordial importância, está a  consolidação do Porto de Suape, com sua zona industrial. É incrível que com tantos ministros que Pernambuco teve e tem, este projeto não se consolide e desenvolva (se me lembro bem começou há 50 anos). Deve ser interessante para alguém que demore. Mas, continua a questão primordial: um porto eficaz para exportar (ou importar) o quê?

Pernambuco talvez esteja mais adiantado não na indústria clássica, como alco-sucareira,têxtil ou até automobilística, mas na área digital e de serviços de medicina. O mundo não tem mais fronteiras, ou as diferenças de antigamente. E o valor maior, desprezado por tantos anos, é de capital humano. Hoje uma empresa de Pernambuco pode vender produtos e serviços no mundo inteiro, começando pelo imenso mercado brasileiro, usando as tecnologias digitais disponíveis. E justiça seja feita, há nessa área boas notícias do Porto Digital.
O estado precisa ter sua política de expansão internacional e de exportações, como São Paulo tem e acaba de formar um Conselho de  Relações Internacionais e Comercio Exterior. Hoje em dia não há mais espaço para empresa bem sucedida se ela não for global e usar as mais avançadas tecnologias à sua disposição. E isso quer dizer que é preciso ter também um sistema educacional compatível com as necessidades e mercados globais.


Quem ainda lembra do movimento armorial, com músicas tocadas em um Stradivarius, sabe que se pode atingir esse nível de excelência. De Pernambuco para o mundo.

Sunday 29 October 2017

DA CATALUNHA E DO BRASIL



Até há alguns meses, apenas através do futebol a Catalunha existia para a maioria dos brasileiros: Neymar jogava no Barcelona, Barça, time com o mesmo nome da capital da região mais rica da Espanha. Neymar foi para Paris, mas a Catalunha continua e cada vez mais presente no noticiário internacional. A região, de 32 mil km2 (tamanho de Sergipe), onde 95 % dos 7.5 milhões de habitantes falam catalão, língua muito diferente do espanhol, com renda per capita de 35 mil dólares (a do Brasil não passa de 10 mil), maior do que o da Itália, Coréia do Sul e Israel, com exportações de 65 bilhões de dólares (só manufaturados) e responsável por 20 % da riqueza da Espanha, quer se separar. E assim se tornaria o 34° país mais rico do mundo, e um dos mais competitivos. 

O processo de declaração da independência está em curso e é claro que o governo central espanhol está lutando com todas as armas legais, inclusive a policia, para impedi-lo. Quem gostaria de ficar na história como responsável pelo esfacelamento do país? Nem o Rei Felipe e nem o Primeiro-Ministro Rajoy. Mas, o processo está em curso, e cada vez mais complicado. Os catalães não têm como voltar atrás e perder esta oportunidade histórica de sair da Espanha. E os espanhóis, que mantem até hoje colônias no Saara e perderam seu esplendor colonial (mas não a pose), também não sabem resolver a não ser no tapetão. Com experiência de lutar contra o separatismo basco, impregnado com atos terroristas do grupo ETA, estão confundindo o que está acontecendo hoje na Catalunha.

A Europa não quer, no meio das discussões sobre a saída da Grã Bretanha da União Europeia, mais uma confusão como a separação, hoje da Catalunha da Espanha, mas que amanhã pode ser do País Basco, também da Espanha, da Escócia do Reino Unido, do esfacelamento da Bélgica e das autonomias das regiões italianas. Mas, cada um desses processos é diferente, já que a Europa não é um continente unido pelos países mas um conglomerado de nações, com sua história e cultura. A consolidação europeia como união das nações –estados (a Baviera se diz Estado livre na Alemanha) está longe de terminar, se é que algum dia termina.

Na Catalunha, que tem um projeto de independência, tudo pode acontecer. O que não vai acontecer é que nada vai acontecer. A racionalidade do nacionalismo é totalmente irracional. E a Europa já viu esse processo dezenas de vezes, e nunca terminou sem derramamento de sangue.

E o Brasil como fica nessa situação? No caso da reorganização política da antiga União Soviética (neste ano comemorando 100 anos de revolução bolchevique) e da Iugoslávia, o Brasil agiu rápido e reconheceu os novos países. Só até hoje não reconhece o Kosovo, que se separou da Sérvia. E o governo disse que não vai reconhecer a independência da Catalunha. Isso tem lógica porque dizer hoje que vai reconhecer é comprar briga com a  Espanha, o que não convém.


Mas a lição mais importante que fica é olhar nesse mapa do mundo do desejo de cada um ficar sozinho, para o mapa do Brasil, um dos poucos países tão unido, uniforme geograficamente e linguisticamente, culturalmente e politicamente. Será que em contraponto a essas dificuldades de se manterem unidos e  coesos, o Brasil ganha mais forca e projeção? Se for aliado a um projeto nacional de competitividade e justiça social, sim. Mas só pelo tamanho e falarmos uma língua só, não será suficiente.

Sunday 22 October 2017

DO LEITE E DA ESCRAVATURA



O setor agrícola brasileiro, junto com a mineração, foi internacionalizado desde a descoberta do Brasil. Não demorou muito para que, além de diamantes, ouro e outros metais e pedras preciosas, o Brasil, único país do mundo que tem seu nome oriundo de uma madeira, passasse a exportar madeira, açúcar, cacau. E depois vieram, já no século 19, café, borracha e, com novas conquistas, soja, milho, suco de laranja, etanol, cafés especiais, e mais e mais produtos da terra. O agronegócio foi, assim, sempre internacionalizado e muito antes da indústria. Hoje você encontra produtos bem mais sofisticados, como cachaça, no mundo inteiro. E não há ninguém que não reconheça que, se não fosse o agronegócio, o Brasil teria falido e quebrado ainda mais do que já está.

E como mesmo com toda a tecnologia que foi desenvolvida na área agrícola e pecuária (veja o exemplo do centro de genética de Uberaba) ainda depende muito de São Pedro (e haja mudança climática para ele administrar), nós também importamos produtos agrícolas. Vinhos do Chile, Argentina, França e Espanha, trigo da Argentina, Estados Unidos, etanol dos Estados Unidos, leite do Uruguai, e mais e mais outros produtos de inúmeros países. Com significativa exportação de nossos produtos agrícolas e carnes, criamos um superávit comercial que desequilibra nossas relações comerciais com o mundo.  Ou seja, se queremos exportar mais, vamos ter que importar. E importar de quem importa mais, não menos .

A nossas exportações agrícolas dependem também muito do exterior e das empresas multinacionais no Brasil. No mercado interno, as maiores distribuidoras de alimentos, lácteos, os supermercados, são estrangeiros. Os maiores exportadores de nossas commodities são  estrangeiros. Sementes, fertilizantes, transportes, máquinas e tudo o mais, tem estrangeiro dominando. Então, não dá para ignorar.

E aí entra esse episódio da importação de leite do Uruguai. Esse vizinho nosso tem pouca coisa para exportar para Brasil, a não ser produtos agrícolas, e importa muito do Brasil. Além do mais, é sócio importante no Mercosul, onde estamos negociando um acordo de comércio com a União Europeia. Se não ligar essas pontas, como aconteceu com a proibição de importação de lácteos uruguaios, temos um problema. É como proibirmos a importação de arroz de lá ou a importação de trigo dos Estados Unidos e termos um superávit comercial enorme com a Argentina, que também exporta trigo para Brasil.

Mas, o maior tiro no pé na área internacional foi a edição do decreto referente à definição de escravatura. Que é preciso ter novas definições de normas de trabalho em toda a sua extensão, não há dúvida alguma. Mas, nitidamente, no século 21, afirmar que é normal  que a legislação brasileira aceite normas consideradas imorais pelo mundo, que compra nossos produtos, é um absurdo inaceitável. Nem no Brasil e nem no mundo, ninguém de boa fé, aceita isso. Não há mais espaço para discussão sobre a escravatura, que já acabou . Agora, entidades empresariais defenderem esse regulamento e dizerem que não afeta nosso comércio internacional, como fez a  CNI, é de uma ignorância e irresponsabilidade que só será corrigida lamentavelmente pelo que nos espera. Para começar, já na negociação com a União Europeia, não há negociador europeu que possa aceitar isso. Nem governos e nem consumidores aceitarão. Portanto, o preço que vamos pagar pela meia dúzia de irresponsáveis que acham que o país inteiro tem que defendê-los, com sua falta de ética e responsabilidade social, será altíssimo. Bem-vindos ao nosso futuro visto pelo retrovisor da história.



Monday 16 October 2017

DO MERCADO BRASILEIRO



Há alguns anos, em uma palestra na Escola Técnica de Formação Gerencial - ETFG -  do SEBRAE Minas, a uma pergunta sobre quantos alunos estiveram em Miami e quantos no Piauí, ou no Ceará, ou no Tocantins, Miami lamentavelmente ganhou disparado. O fato é que nossa futura elite empresarial, não só no SEBRAE, mas também em outras instituições, dá mais atenção ao chamado mercado global, do que ao mercado local ou mercado regional. Isso não vale só para os estudantes, seja de que área de estudo for, mas também para os empresários já estabelecidos. As entidades empresarias oferecem mais oportunidades para viajar para exterior, em especial participar de feiras, do que promovem mercados regionais e nacional. 

A empresa estrangeira que vem para o Brasil, com exceções nas áreas tipicamente de produtos cujo mercado é exterior, como mineração, vem investir porque este país tem um mercado de 210 milhões de pessoas, que ainda tem um potencial muito grande de desenvolver.  Não  há fronteiras, apesar das enormes dificuldades logísticas, nesse mercado. Uma das razões de o empresário não enxergar esse potencial é o preconceito regional. Os mineiros acham que os paulistas são arrogantes e complicados. Que os nordestinos, bem você sabe os nordestinos são nordestinos. Começando pelos baianos que são baianos. E assim por diante, ficam cheios de opiniões ao invés de estudarem melhor os mercados e se dedicarem a um projeto a longo prazo de conquista.

Aliás, as coisas são mais fáceis se olharmos que um mercado como o de Minas Gerais, é, do ponto de vista mercadológico, um mercado bem interessante. Mas, se olharmos de perto, descobrimos que o empresário de Montes Claros, a não ser que se instalou com polpudos incentivos,  não vende nem em Brasília e muito menos em Juiz de Fora. O mesmo vale para os empresários de todas as regiões mineiras que, fechados nos seus mercados locais, choram as mágoas, mas não se levantam para ir vender no imenso e dinâmico mercado brasileiro. Sem falar em Mercosul, Argentina, Paraguai e Uruguai.

A solução está na mudança de paradigma das entidades empresariais, que devem promover mais mercados regionais e o nacional, mas sem perder de vista o mercado global. Promover a indústria de Minas e seus produtos e serviços no país inteiro deveria ser a resposta à crise. E aí, o uso de modernos instrumentos de analítica e big data devem fazer parte desse esforço.


Com certeza isso pode melhorar em muito o faturamento da indústria mineira.

Tuesday 10 October 2017

DA PORTA ABERTA EUROPEIA



Na semana passada foi concluída em Brasilia mais uma etapa de negociações entre os representantes da União Europeia, EU, e Mercosul sobre o tratado de comércio entre os dois blocos econômicos. Como toda negociação em curso, as conclusões são parciais mas indicam ao mesmo tempo uma forte tendência de que a conclusão do acordo interessa às duas partes. O acordo comercial entre esses dois blocos econômicos em que residem mais de 650 milhões de pessoas será, uma vez concluído, o maior acordo comercial entre duas regiões. Ao mesmo tempo, será para o Mercosul o fechamento de uma parceria estratégica com seu maior parceiro comercial após a China e seu maior investidor. Além da clássica declaração de que a maior parte da população da  nossa região é de origem europeia e fala línguas, espanhol e português, europeias.

O acordo prevê uma gradual abertura de mercados nos dois sentidos, mas protegendo alguns setores, e sendo menos generosa para alguns produtos agrícolas como o etanol e a carne bovina. Aliás, foi nestes dois itens que a negociação em Brasília empacou. Os europeus estão oferecendo cotas ridículas, a de carne significa que os 4 países de Mercosul poderão exportar anualmente a quantidade correspondente a um bife por habitante europeu e a de etanol não passa de nossa produção de uma semana. O medo dos agricultores europeus fortemente subsidiados, ao contrário da nossa agricultura, é que vamos invadir a Europa com nossos produtos e acabar com eles. Por outro lado se esquecem de que, no caso de França, o comércio de alimentos no Brasil é dominado por empresas francesas. O mesmo acontece com máquinas e automóveis, indústrias dominadas por europeus no Brasil.

As negociações foram acompanhadas por forte contigente empresarial liderado pela chamada Coalizão Empresarial Brasileira, aliada à CNI, que mais reclamava da proteção de setores do que de um aproveitamento das oportunidades que o acordo vai oferecer. As entidades empresariais CNI, CNA, CNC e setoriais, estão na absoluta maioria olhando o futuro pelo retrovisor e sem  nenhum projeto de desenvolvimento do seu setor dentro de uma nova realidade que será trazida pela conclusão do acordo. Está claro que o acordo, que ainda tem chance de ser concluído até o final do ano em suas linhas gerais, traz muitas vantagens para quem está mais bem preparado, como os europeus, mas ele abre inúmeras oportunidades para nossas exportações.Se os franceses vão vender mais queijo para nos, nos podemos vender mais pão de queijo e outros produtos lácteos para a Europa.


Mas, para isso precisa estar se preparando já. Sem choro, preparar para uma nova fase de comércio mais competitivo. Porque se não fizer isso, efetivamente o acordo por si só não vai ajudar, mas atrapalhar. Ou teremos coragem e meios para sermos competitivos, ou aí sim vamos desaparecer. O consumidor brasileiro não quer nem viver no mundo subdesenvolvido, nem ter produto de segunda e nem ser cidadão da segunda classe.

Monday 2 October 2017

DA CEMIG E ITAJUBÁ



A paulada da retirada das concessões das usinas hidro-elétricas da CEMIG e sua passagem para estatais estrangeiras é mais um golpe, desta vez direto no coração de Minas. Minas se desenvolveu após o governo de JK justamente porque então a Companhia Energética de Minas Gerais permitiu, com fornecimento de energia, inicialmente com a Usina de Três Marias, o desenvolvimento da sua indústria e agricultura e o da sua sociedade como um todo. A empresa pública criou uma cultura de gestão impecável e eficaz, tendo como símbolo, entre outros, o engenheiro Joao Camilo Penna, copiada pelo Brasil inteiro e modelo de desenvolvimento do setor energético brasileiro. Até que em um  determinado momento os políticos tomaram conta dos técnicos, o auge ocorreu com a ilusão da venda de um terço para um sócio depredador estrangeiro, que foi substituído pelo campeão local da Lava Jato. A empresa se tornou presa de interesses escusos, a compra da Light se enquadra nisso, além de investimentos em Monte Belo, expansão desenfreada de negócios (totalizando mais de 100 empresas espalhadas pelo Brasil e um mundo propositadamente de complexo controle financeiro). Distribuição de dividendos sem que os houvesse, empréstimos  para pagar dividendos e satisfazer sócios privados, além de milhares de alianças de negócios que prejudicaram a empresa e  geraram dinheiro para poucos. Só para ilustrar como isso terminou: dois dos ex-presidentes recentes trabalham hoje ou são sócios para um grupo empresarial mineiro com fortes ligações na área de liderança empresarial.

Ou seja, o modelo pelo que se enveredou, a aliança de políticos e empresários para benefícios próprios, levou a nossa CEMIG, apesar de ser cotada na Bolsa de Nova Iorque e ter acionistas em 45 países, a uma fragilidade que produziu, junto com a queda da força política de Minas no cenário nacional, a perda de usinas. Há elementos externos que ajudaram nisso sim, mas há também descaminhos da empresa, levados adiante por vários governos que ajudaram a enfraquecer a empresa com enorme  endividamento, entre outros. 

Então, a hora é de rever o modelo da CEMIG para que volte a ser um eficaz instrumento de desenvolvimento de Minas. Alguns defendem total privatização. Não vão faltar compradores, aliás começando pela famigerada  Light do Rio. Mas, o que aconteceu não foi com um sócio estratégico mineiro? Tem que repensar com calma, porque a solução a ser dada à CEMIG será dada ao próprio desenvolvimento do estado. 

E a CEMIG não é  nosso único problema. Como vai se posicionar a Fiat, antiga líder brasileira em produção de automóveis, com os novos desafios de carros elétricos, concorrência feroz e indústria 4.0? Em Itajubá, terra de engenheiros que construíram a CEMIG, está definhando a indústria eficiente de helicópteros, HELIBRAS, porque o  Ministério da defesa não cumpre contrato. E políticos de Minas não têm nenhuma força para pressionar o Ministério da defesa para que isso não aconteça. A pressão vem da FIESP, porque a entidade mineira de indústria está preocupada em construir na mesma Itajubá um laboratório que tira recursos de educação de mão de obra para satisfazer poucas empresas.

Tempos difíceis, que requerem coragem e conhecimento para resolver os problemas. Que esses episódios nos levem a soluções melhores para um futuro  mais sustentável do ponto de vista social e econômico.

Sunday 24 September 2017

DEFICIT DO PRODUTO MORAL BRUTO



A cada momento estamos ouvindo do déficit fiscal. Bilhões de reais. Déficit de contas públicas e quebradeira das contas dos estados e municípios. E déficit da previdência que requer uma reforma urgente do sistema previdenciário. E mais: a queda de produto bruto, que é a soma de todas atividades econômicas, foi brutal nos últimos três anos, com um acréscimo do desemprego que aumenta a crise social. Em resumo, não faltam indicadores econômicos e sociais para medir o que está acontecendo no país e no mundo.

Em um ambiente globalizado competitivo, ainda há indicadores de felicidade, onde o Brasil, com sua população sempre paciente e esperançosa, parece bem. Tem também indicadores de competitividade, onde claro estamos, por  razões que todos conhecemos, mal. E de inovação, também. Na de transparência, estamos na lanterna mundial. Na lista da FIFA, escorregamos após a fragorosa derrota para a Alemanha no final da Copa no Brasil, mas estamos bem. E ainda há alguns cantores nossos que ganham o Grammy, para a consolar a nossa brasilidade.

Neste incrível mundo de avaliação de desempenho da sociedade, não vamos falar nem na infra-estrutura, educação e saúde, e neste incrível momento de transição que estamos passando, neste momento da Lavas Jato e todos os processos em curso e os que ainda vem, faltam algumas considerações que não são macro, mas que afetam a vida do cidadão comum.

Que a nossa sociedade, que se apresenta como quem está aplicando a justiça neste momento nos casos de corrupção, está profundamente manchada com esses acontecimentos e com lideres que não conseguem apresentar soluções um tanto quanto razoáveis e aceitas pela maioria da população, ninguém tem mais dúvida. De um lado há escândalos de corrupção, de outro lado soluções dadas pelos mesmos que causaram o problema ou participaram omissos ou ativos dele. Insustentável para qualquer pessoa normal.

Por outro lado, nos conflitos de segurança pública, o caso do Rio é o mais visível, inclusive por causa de força da mídia, mas não e único. Muito pelo contrário: o país no item de segurança pública se tornou absolutamente vulnerável. Ninguém quer dizer quem manda e quanto nos tornamos um Medellín ou Cali, cidades dominados por cartéis. Ou uma Colômbia.

Nesse item ainda cabem a contabilidade de mortes violentas, crimes registrados e não registrados e mortes no trânsito, tanto nas cidades como nas estradas. Somos um país dos mais violentos do mundo, dos mais corruptos, e com o melhor sorriso. Nada nos derruba, nada nos destrói (felizmente não temos terremotos e nem furacões).

No fundo parece que o problema maior nosso é moral e ético. Perdemos valores de respeito às pessoas, à sociedade em que vivemos e ao estado que construímos. As instituições que estão caindo na nossa frente (mesmo que  isso não pareça às vezes claro), são resultado de uma brutal queda de produto bruto moral e ético do país. E essa queda tem na sua base a perda ética dos valores do cidadão, de cada um de nós.

Nós aceitamos o jeitinho e a lei de Gerson com a maior naturalidade, e não nos revoltamos através eleições e outros instrumentos democráticos contra isso. O nosso problema reside em que as instituições que são responsáveis por guiar e liderar esse fundamento ético do país, sejam religiosas, políticas ou lideranças civis e empresariais, se acovardaram e passaram a construir para o seu bem próprio e o dos seus dirigentes esse déficit ético e moral. E aí, chegamos ao ponto em que tudo vale para me salvar. Se eles podem, eu também posso.

Déficit moral, realinhamento ético da cidadania em um processo democrático, é o nosso único problema. E aí depende de cada um, e de todos. Outros indicadores são consequência da mudança que deve ser feita por instrumentos políticos democráticos.

Difícil, mas não impossível, porque mesmo com essa desordem que existe, há exemplos e mais exemplos no país que nos lembram de não desistir e lutar. É seguir esses exemplos e não os da Lava Jato e similares.

Monday 18 September 2017

DAS AUTO

“DAS AUTO”

A feira de automóveis de Frankfurt, realizada a cada dois anos, teve neste ano, além da Chanceler alemã Angela Merkel, também a presença da principal executiva da Facebook, Sheryl Sandberg. Bem, que a líder alemã estivesse presente alguns dias antes de eleições parlamentares, está claro. Mas, porque dar tanta importância à Senhora Sanberg? Os prepotentes alemães, que vendem na China um em cada dois automóveis, deram à empresa de Palo Alto, Califórnia, uma importância que coloca bem no nosso nariz a pergunta: o que está acontecendo com “Das Auto”, como os alemães chamam o automóvel.

O fato é que na feira não se falava de potentes máquinas, aquelas que a Lava Jato apreendeu dos nossos malfeitores, mas de carros híbridos, elétricos, de mobilidade urbana e carros autodirigíveis. Automóveis que usam mais e mais eletrônica, inteligência artificial, e integração de várias tecnologias inteligentes. Os produzidos hoje, estão virando carroças com muita rapidez. E neste capítulo inclui-se o uso de automóveis como pelo Uber e todo o sistema de logística, como fazendo entregas que hoje são feitas por motoqueiros.

Além de toda a inovação tecnológica a que estamos assistindo, ainda há a questão do meio ambiente. A indústria alemã fez feio com a falsificação de dados sobre emissões dos seus motores a diesel nos Estados Unidos ( no Brasil ninguém se incomodou com isso) e precisa recuperar a credibilidade.Por isso, usaram a feira de Frankfurt para anunciar que em menos de dez anos vão fabricar mais carros elétricos do que a gasolina e diesel. Analistas apontam que a Alemanha, que fez da indústria automobilística sua força motriz de desenvolvimento ( 13 % do PIB e 18 % das exportações) está em uma encruzilhada tal que se não houver uma mudança de modelo econômico pode chegar a uma crise sem precedentes, inclusive de efeito devastador para a Europa. E tem outros movimentos: a Renault fez da aliança com a Nissan e a Mitsubishi um gigante que deve produzir nos próximos cinco anos mais de 10 milhões de veículos por ano. Em resumo, o setor todo está no meio de mudanças significativas.

No Brasil, decidimos há sessenta anos, na época de JK, fazer da indústria automobilística também o motor do nosso desenvolvimento. E ela continua forte, poderosa e com tantas fábricas com incentivos que já perdemos a conta de sua competitividade a não ser para exportar para a Argentina. Fala-se timidamente de automóveis elétricos, de consolidação e de avanços tecnológicos em nível mundial. E esse debate, que pode estar fervendo no próprio setor, deve ser um debate sobre avanços tecnológicos, meio ambiente, combustíveis,  e mobilidade, ente outros, que interessam à sociedade brasileira como um todo. A não ser que desejemos esperar que a crise nos derrube mais uma vez.

Saturday 2 September 2017

DO LAVA RIOS



Minas Gerais é uma terra de montanhas, rios, planícies e riquezas naturais, começando por suas reservas minerais, e um enorme potencial biológico. A história do estado sempre foi  construída na base de suas riquezas minerais, por bem ou por mal. Através dos tempos, a valorização de seus minerais mudou, das pedras preciosas passou para o nióbio, e agora para o lítio, que está sendo usado em baterias para a nova era eletrônica e digital. Passamos pelo quartzo para uso em telecomunicações, pelos diamantes para a beleza e o uso industrial, pelo minério de ferro da mais alta qualidade e mais dezenas de minerais e minérios extraídos da terra que também produz café, soja, milho, e até o fosfato que alimenta sua agricultura toda em expansão.

Essa identificação na mineraria também  produziu a melhor escola de Engenharia de Minas da América Latina, em Ouro Preto, graças ao pioneirismo do engenheiro Gorceix. E os primeiros fornos de fundição em Ouro Branco, a primeira planta de alumínio feita pelo lendário Américo Rene Gianetti em Ouro Preto e muitos empreendimentos mais. Com o descobrimento de riquezas vieram estrangeiros, ou como exploradores ou como investidores. Nas minas de ouro, de Nova Lima, ou de São João del Rey, eram os ingleses. A Siderúrgica Mineira de Sabará foi vendida em 1928 para os luxemburgueses e virou a Companhia Siderúrgica Belgo Mineira, hoje grupo Mittal, indiano. Em resumo, o nome de Minas Gerais é mineração. Foi fundada na metade do século passado a Companhia Vale do Rio Doce, com sede no Rio de Janeiro, mas com suas minas  em Minas Gerais, em especial Itabira, descritas como nunca pela tristeza do que viraram, pelo eterno poeta Carlos Drummond de Andrade.

Ai, aconteceu o acidente no ano passado na mina da Samarco, de Mariana. Sujou o Rio Doce, destruiu cidades, destruiu vidas, manchou a alma mineira. E até agora, mina fechada, muitas discussões, muitas promessas e nada resolvido. Nem do ponto de vista jurídico, nem politico e nem econômico. Enquanto os fiscais de meio ambiente do estado e das prefeituras ficam caçando pequenos infratores para atender pedidos de vingança política, as questões maiores de meio ambiente no estado ficam paradas e sem solução.

Não se trata tão somente de licenças de funcionamento, mas essencialmente de, através da solução do caso de Mariana, demonstrar  a capacidade  do estado de administrar o meio ambiente e dar-lhe uma solução. A mineração por si só não é nenhum mal, mas deve ser parceira ambientalmente responsável. Minas está perdendo lugar não só para estados do norte, mas também para o Peru e Chile.

Por mais que se tente diversificar a economia mineira, a mineração e a indústria correlata aos agronegócios ainda serão sustentáculos e base de desenvolvimento. Mas, é preciso resolver os caso pendentes e fazer uma política consensual de desenvolvimento.

Tuesday 22 August 2017

DO DESVIO DE FUNÇĀO E DINHEIRO



Nos idos dos anos 40, ou seja, há quase oitenta anos atrás, um grupo de industriais paulistas liderados pelo engenheiro Roberto Simonsen, convenceu o governo Vargas de que a educação profissional era fundamental para o desenvolvimento do país e, consequentemente, de sua base econômica, indústria e comércio. E mais: que a gestão desse programa deveria ser das próprias entidades empresariais, financiado pelo desconto na folha de pagamento. Contribuição social como outras, pura e simples. Recursos controlados pelos órgãos de fiscalização do estado e gestionados pelos empresários. Assim foram criados, com objetivos claros, os serviços de aprendizagem industrial e comercial, como também,  para prestar serviços na área social, a grande preocupação do governo da época e dos próprios empresários, os serviços sociais da indústria e comércio.

Com o passar do tempo, esses serviços se estenderam também para a área de agricultura, transportes, o comércio adicionou serviços, nasceu o serviço para a assistência às pequenas empresas e também para assistir aos exportadores. A evolução da economia e desenvolvimento do país exigiram novos serviços como resposta a novos desafios. Mas, a função básica de educação profissionalizante  do serviço de aprendizagem industrial ou comercial não mudou em momento algum. Nem pela lei e nem por outros meios legais. Ou seja, a sociedade, os empresários e os legisladores continuam afirmando que a contribuição na folha de pagamentos dos trabalhadores é destinada à educação.

E isso tem muita razão de ser. A educação é a mãe de todas as demais atividades e se há recursos bilionários de contribuições dos trabalhadores para isso, os recursos devem ser usados para isso. Claro que os desafios da economia de hoje não são iguais aos desafios de ontem. Educação é um processo, não um momento. Você não educa um profissional da noite para o dia. Portanto, requer muita consistência, visão de futuro e, principalmente, responsabilidade. Esse sistema de aprendizagem é inclusive uma das raras portas que permite mobilidade social aos trabalhadores.

Em termos gerais pode-se dizer que o sistema, em especial na área de agricultura e comércio/serviços, funciona bem. Quanto à indústria, o sistema, em São Paulo e nos estados do Sul, está cumprindo sua missão. Não desviou para a construção megalomaníaca de laboratórios destinados a um pequeno grupo de empresas de seus dirigentes, comprometendo o orçamento de finalidade básica por vinte anos e reduzindo a zero a possibilidade de qualquer expansão ou melhoria de qualidade na sua função básica e legalmente estabelecida, que é a educação. Milhões de desempregados que precisam de requalificação profissional, novos desafios como a indústria 4.0, jovens querendo trabalhar sem qualificação e empresas desesperadas  porque não têm operários qualificados, trocados por interesses mesquinhos, pessoais, financeiros dos que ocupam cargos. E ainda abençoados por empréstimos dos bancos estatais nacionais  de desenvolvimento que aceitam troca de desvio de função legal por desvios ilegais.

Triste o país que troca a educação por falso progresso e o benefícios de alguns pelo futuro de todos. E aí cabe a pergunta, onde estão os que  devem controlar essas ações, como os procuradores de justiça, a polícia, o estado? Há desvio de função e desvio de caráter. E provavelmente mais alguma coisa.

Sunday 13 August 2017

DO PAO DE QUEIJO E DA INOVAÇĀO



Nos mercados globais, Minas Gerais é sinônimo de pão de queijo, café e cachaça. Para produzir um bom pão de queijo, precisa-se de polvilho e queijo. Misturando tudo isso e mais alguma coisa, faltava que esse produto maravilhoso da culinária mineira pudesse ser oferecido fora do cozinha da casa onde era feito. Gostoso é pão de queijo  quentinho com  cafezinho feito na hora. E aí entra na história a professora doutora Ana Maria  e sua equipe da Universidade Federal da Viçosa, que descobre como congelar a massa do pão de queijo. E o projeto foi financiado pelo SEBRAE Minas.

Os resultados estão aí: uma indústria bilionária, cuja cadeia produtiva emprega milhares de pessoas e leva o produto aos quatro cantos do mundo. A professora deve estar aposentada e ninguém mais lembra dela e da equipe (as tais pesquisas acadêmicas), nem ela nem a universidade na época dirigida pelo atual presidente da FAPEMIG, prof. Evandro Villela, receberam um tostão e nem o SEBRAE Minas recebeu compensação financeira pelo que fez. Mas, a economia de Minas, gerando empregos, e as empresas competitivas, sim, existem e estão prosperando.

A cachaça artesanal mineira, outro produto cujos preços estão proibitivos, mas mesmo assim é um produto global, atingiu sua qualidade quando pesquisadores das universidades ajudaram a melhorar a qualidade, introduzindo métodos de produção e controle de qualidade comparáveis à produção do conhaque francês. E ai entrou o marketing, com esforço empresarial, que também levou a mais empregos e mais resultados positivos das empresas. 

Do café arábica Minas, marca reconhecida mundialmente, aos cafés gourmet, o caminho foi longo e persistente. Também neste caso as universidades tiveram um papel fundamental. A aliança de cafeicultores com pesquisadores elevou a qualidade e colocou  no mercado mundial produtos que fogem à especificação comum de café commodity para atingir preços que compensam a qualidade oferecida.

Há outros exemplos, como o nascimento do projeto Cerrado na agricultura, que começou na antiga Escola de Agricultura de Lavras e faz hoje do Brasil uma potência agrícola mundial. A corajosa iniciativa de formar um núcleo de Biotecnologia, a BIOMINAS em Belo Horizonte, a fábrica de chips com cooperação com suíços, e algumas outras iniciativas que hoje têm sua expressão maior em centenas de start up,  que crescem como cogumelos após a chuva pelo estado afora.

Os desafios porém sao maiores, porque a saída da crise brasileira passa pela transformação da sua economia copiadora em uma economia inovadora. E para isso não faltam nem pesquisadores, nem universidades, nem dinheiro. Claro que o sistema acadêmico vive reclamando da falta de recursos, principalmente neste momento, esquecendo que temos 30 milhões de desempregados  e estamos em um processo de reajuste econômico onde todos temos que perder os anéis, principalmente os políticos, para não perder os dedos.

O grande problema nosso é acreditarmos que a inovação é o único caminho para melhorarmos o país. Precisamos ter coragem para criar  alianças que produzam resultados em uma economia digital, de blockchain, de big data, de analytics, de inteligência artificial, de indústria 4.0, de física quântica etc.


Estamos de costas para o futuro, investindo em tecnologias que produzem resultados parcos mas não nos colocam na frente da corrida para a conquista do mundo. Investimentos bilionários que atendem a uns, como laboratórios de alta tensão, centro de tecnologia ex-estatal para atender industrias fora do estado, pesquisas repetidas em dezenas de universidades no estado, nos obrigam a repensar urgentemente a nossa política de inovação, incluindo centenas de start up que produzam resultados palpáveis para a economia do estado.