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Friday 22 August 2014

Da democracia pretoriana e Ferguson

De Ferguson e a democracia pretoriana (1)

Inúmeras vezes pessoas em desespero em áreas de conflito pediram que os Estados Unidos interferissem e ajudassem. Há setenta anos liberaram Paris, invadindo a Europa e ajudando a Rússia, Inglaterra e resistentes locais para derrotarem o nazismo em seguida. Os retratos na parede dos alegres franceses saudando os soldados americanos, inclusive negros, são parte dessas lembranças. Mas depois veio a guerra da Coréia, Vietnam, ataque mal-sucedido a Cuba, golpes militares na América Latina, Tempestade do Deserto, Iraque, Afeganistão. E no meio, vil ataque às torres de Nova Iorque, que mudou a percepção de segurança dos Estados Unidos. E nesta semana, a decapitação de um jornalista americano pelos membros radicais islâmicos no Iraque.

Há um mundo permanentemente em ebulição, que exige dos Estados Unidos a defesa dos valores democráticos, ao mesmo tempo que a defesa da própria liderança dos Estados Unidos no mundo. Ou seja, os políticos americanos, além de cuidarem da política externa, têm constantemente que se preocupar com a ordem no mundo. E, definitivamente, após o ataque de 11 de setembro, o conceito norte-americano de segurança interna mudou. O país teve que achar um equilíbrio entre as instituições democráticas e seus valores e as ameaças mais ou menos reais  dos inimigos externos, ou seja, terroristas.

Ao mesmo tempo que se formou uma espécie de regime democrático muito obcecado com a segurança interna (apesar de que este fenômeno se deu através da caça aos comunistas na década de 50, de uma outra forma), com a crise econômica também apareceram problemas internos. E agora, à véspera de eleições parlamentares parciais, e com as comemorações dos 50 anos das liberdades civis, surge de novo a revolta civil numa cidade insignificante chamada Ferguson, em um estado também de menor importância, ou seja, Missouri. Com um presidente negro, a revolta da população negra desponta devido ao assassinato por um policial branco de um jovem negro desarmado.

O aparato de segurança dos Estados Unidos cresceu em todos os sentidos. A violência doméstica e a criminalidade  levaram quase 4 milhões de pessoas à  prisão. A violência nas prisões, inclusive na famosa Ryker, em Nova Iorque, onde segue um inquérito sobre abuso de jovens que nunca chega a conclusão, só tem um nome: inferno. E isso é uma das consequências dos problemas raciais e sociais não resolvidos que os Estados Unidos enfrentam.

A revolta de Ferguson tem raízes muito mais profundas do que o episódio que vemos na TV. E ela expõe com crueldade o sistema de democracia norte-americana, com suas fissuras sociais e raciais. Não só o Presidente Obama, mas também o Procurador Geral, Mjnistro da Justiça, que  também é negro, devem  dar atenção especial ao caso. Não por causa deles, mas porque só com guarda pretoriana a democracia não funciona. Precisa de mais. Precisa de democracia.

(1)Samuel Huntington usa esta expressão no caso de militarização da política, ou seja quando prevalecem os militares ou policiais, segurança, no comando das políticas públicas

Stefan B. Salej
21.8.2014.

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